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Testemunho

Maria Antónia Vieira Fonseca dos Santos (1943-2024)


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Nasceu na que era então uma vila angolana, Catabola, a pouco mais de 50 quilómetros da
capital da província do Bié, Kuito, a 21 de janeiro de 1943. E terminou a sua passagem por
este mundo a mais de 9.200 quilómetros, numa grande capital, Lisboa, a 30 de setembro de
2024.


Dois continentes, milhares de quilómetros, três países, muitas lutas e palavras sem fim. Em
81 anos, Maria Antónia — Toy para os amigos —, construiu ao lado de Jesus uma vida
cheia, com dois filhos, três netas e dois bisnetos, para quem era a Bisa ou a Nona, sempre
disponível para ouvir, orientar, apoiar. Amor não lhe faltava, experiência também não.
Depois da infância no Bié, onde inaugurou a quarta geração da família a nascer em Angola,
foi para Benguela, cidade das acácias vermelhas. Tinha apenas 15 anos quando partiu para
outro país, outra língua, outra cultura, estudar num colégio adventista do sétimo dia, o
Helderberg College, na África do Sul. Já se tinha apaixonado pela poesia, amor que nunca
deixou. Aos 12 anos recebera um louvor por declamar e a partir daí continuou a ser
convidada para dizer poemas, não só em português como em inglês. Porém, foi preciso
chegar ao século XXI para, na Universidade Sénior, já depois de se reformar, em 2019, ter
os seus versos publicados numa coletânea de poemas ao lado dos de outros colegas.

Mas isso foi muito depois dos dias em que, deixando a África do Sul, aos 20 anos,
regressou a Angola, primeiro para o Lobito, depois para Luanda, secretariando o presidente
de uma multinacional. Até que pisou Portugal, em 1977, a terra dos seus trisavós. Aqui,
trabalhou 40 anos na Publicadora adventista, feliz no meio dos livros. Traduziu, do inglês e
do espanhol, muitos artigos e mais de dez livros sobre saúde, educação e religião.
Membro ativo e muito querido da Igreja da Amadora, diaconisa de sorriso cheio,
responsável pela livraria e dinamizadora da Escola Sabatina, não se confinou aos bancos
da igreja. Fez parte, durante 30 anos, de um outro projeto que lhe animava o coração: o
Aliança onde era possível vê-la, já de cabelos brancos, a cantar, em peças teatrais ou a
participar entusiasticamente nos programas das Expo-Saúde.


E quando, nos seus últimos dias de vida, se viu numa cama de hospital, havia palavras na
sua mesinha de apoio. A Palavra, que conhecia tão bem, a sua Bíblia já com letra grande,
que tinha sempre aberta, e outros pequenos livros para oferecer a quem se aproximava.
“Quem sabe foi para isto que para aqui vim”, contava-me ela, com os olhos muito vivos.
“Esta é a minha missão, continuar a falar do amor de Jesus e de como Ele em breve
voltará”. E assim foi. Até ao fim, distribuiu palavras de carinho e ânimo, falando da
Esperança que a mantinha em paz. Sabia que se aproximava o momento de descansar no
Senhor e tinha um sentimento de gratidão pela vida vivida e pela família criada.


Em tantos dias que a Graça do Deus lhe concedeu Maria Antónia, Toy, venceu muitas
dificuldades, travou várias batalhas, espalhou muitos sorrisos, muitos conselhos, alguns
ralhetes (e uma excelente tarte de abóbora). Tudo sem perder o seu foco: Jesus e a Sua
vinda em breve. Entre tantas palavras que lhe ouvi no hospital, guardo uma, um dos seus
legados: Maranata!

UPASD UPASD

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