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Testemunho

Uma heroína da fé depôs o seu cajado de peregrina


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Anne Jernström (1958-2023) - "Rainha do Castelo de Ekebyholm".

"Busquei ao Senhor, e ele respondeu:  livrou-me de todos os meus temores..... Os justos clamam, e o Senhor os ouve, e os livra de todas as suas angústias." Estas palavras do Salmo 34 foram lidas pelo Miguel, o filho da Anne, a seu pedido, num dos últimos dias da sua vida.

O que é então a vida de uma pessoa? Será o conjunto de todos os seus dias? O acumular de todas as suas realizações?

Numa perspetiva atual, a vida de Anne foi curta. Nunca chegou a receber a reforma que lhe era devida, que iria começar no final deste mês de novembro. Durante os últimos três anos, lutou contra um cancro incurável, sendo que os últimos três meses foram passados no quarto número 17 do 5º piso da unidade de cuidados paliativos do Hospital Roslagen em Norrtälje, Suécia. No hospital nunca ninguém recebeu um fluxo tão constante de visitas da Suécia mas também do estrangeiro, desde estudantes, aos seus familiares, velhos amigos, novos amigos e irmãos da fé. Como é que isto foi possível?

A Anne viveu e trabalhou em cinco países: Finlândia, Suécia, França, Suíça e Portugal. Falava fluentemente todas as línguas dos países onde viveu, para além do inglês. Fez um curso de línguas na Universidade de Genebra, licenciou-se em inglês e francês na Universidade de Coimbra, e em Lisboa fez um mestrado em educação. Ao longo do sua carreira foi professora de línguas, diretora de escola, esposa de pastor e diretora de internato, construindo assim um currículo sólido e com mérito.

No entanto, para Anne, a abordagem da vida era completamente diferente: com os olhos da fé. Gostava de ter perguntado à Anne de seis anos, em Lohja, na Finlândia, porque é que ela tinha lido a Bíblia inteira com tão tenra idade? Ou porque é que ficou tão assustada quando a casa do vizinho ardeu e ela perguntou à mãe o que acontecia depois da morte? A família era Luterana e a resposta da mãe foi: "ou vais para um inferno em chamas ou vais sentar-te numa nuvem a tocar harpa". A ideia de se sentar numa nuvem para a eternidade assustava-a com pesadelos de suor frio! 

Quem a ajudou a compreender o amor de Deus foi um professor da escola dominical Luterana. Um dia, um colportor veio à porta e a mãe da Anne comprou os dez volumes de Histórias da Bíblia de Arthur Maxwell. Estes tornaram-se os livros favoritos da Anne, que os leu muitas vezes, fascinada pelas imagens e o texto. Os livros incluíam um convite para um curso de estudos bíblicos, que Anne e a sua mãe encomendaram. Ambas estudaram o curso bíblico exaustivamente. Quando o curso terminou, aceitaram o convite para um acampamento bíblico de duas semanas. Em agosto de 1972,  foram ambas batizadas em Helsínquia, quando Anne tinha apenas 13 anos. Mas o pai da Anne não gostou de saber que ela se tinha batizado porque via a igreja adventista como uma seita.

Como consequência desse desagrado o seu pai nunca permitiria a Anne frequentar 

Toivonlinna, a escola adventista finlandesa. Mas o desejo da Anne era de juntar-se a outros jovens adventistas. Como alternativa, encontrou uma oportunidade de trabalhar na Suécia, no Sanatório Adventista de Hultafors em Nyhyttan.

No ano letivo de 1975-1976, pôde frequentar a Escola Adventista Ekebyholm na Suécia. Ela descreve este como um marco crucial para a sua vida espiritual. O pai da Anne acabou por eventualmente ceder e a Anne voltou para a Finlândia, onde completou o ensino secundário na escola adventista de Toivonlinna, terminando com as notas mais altas a todas as disciplinas, formando-se com distinção - um mérito raro.

Nos finais dos anos 70, o mundo estava aberto a todos os cidadãos da Europa do pós-guerra, onde muitos queriam ir à procura de novas oportunidades muitos queriam ir à procura de novas oportunidades na Europa do pós-guerra. Para Anne, a oportunidade era em Collonges, o seminário adventista em França. Foi em Collonges que ela conheceu o futuro pastor Luís Nunes, de Portugal.

Como professora, esposa de pastor e mãe do Miguel, a Anne passou a desempenhar um papel importante em casa e entre os jovens da igreja em Portugal. Alguns destes jovens vieram visitá-la nos cuidados paliativos, nestes seus últimos dias. Ela participou com energia e convicção em vários projetos de evangelização. Em determinada ocasião a trabalhar como nova diretora de uma escola adventista em vias de fechar, conseguiu inverter a situação através da sua fé, oração e trabalho.

Mas, apesar de várias etapas com sucesso, a vida acabou por se tornar muito difícil. A família separou-se, já depois de o Miguel estar casado e a trabalhar no Hawai como engenheiro aeroespacial e, em 2011, Anne regressa à Finlândia, aceitando o pedido para trabalhar na escola adventista de Toivonlinna  (que também estava em crise) como a nova diretora da escola. Depois, em 2015, regressa a Ekebyholm como professora e diretora do internato da escola.

Em Ekebyholm, a Anne sucedeu a Gunnar Karlsson, que fora o anterior diretor do internato, conhecido como "O Rei do Castelo" (Ekebyholm foi em tempos uma residência de verão para o Rei da Suécia e ainda é considerado um castelo). Suceder a Gunnar não foi a coisa mais fácil de fazer. Anne não era conhecida em Ekebyholm, mas isso estava prestes a mudar. Ela estava firme na sua fé em Jesus como companheiro, amigo e presença constante na sua vida. Ao mesmo tempo, a sua experiência e clarividência não lhe permitiam ser iludida pelas circunstâncias e superficialidades da vida. Anne transmitia um espírito de confiança tão forte que, mesmo sem palavras, dava aos alunos a certeza de que havia alguém que os compreendia. 

Também tinha um grande sentido de humor. A sua fé, calma, paz, amor, confiança, e humor estiveram presentes, até ao fim. Da sua cama de hospital, recordo-me das maiores gargalhadas que tivemos, porque os que lá a visitavam saíam sempre mais animados do que entravam. Mesmo se encontrando à espera da morte, a morte não a preocupava. Em vez disso, a esperança e o amor pelo Deus que ela tinha conhecido durante toda a sua vida reinavam no seu quarto 17.

O Salmo 34 termina: "O Senhor resgata a alma dos seus servos, e nenhum dos que n’Ele confiam será condenado.". Ele, Jesus, salvou-a, Anne Katerine Jernström, para a vida eterna. Há um novo reino à espera da Rainha do Castelo de Ekebyholm. Que lá nos possamos encontrar diante do trono de Deus.

A cerimónia fúnebre será realizada no domingo, 19 de Novembro, às 14h00, (13:00 hora de Portugal) na Igreja Adventista de Ekebyholm. A cerimónia será transmitida em direto para os muitos amigos e familiares em diferentes partes do mundo.

Notícia original: https://www.adventist.se/info/en-trons-hjaltinna-har-lagt-ner-pilgrimsstaven/10081/2
Tradução: Miguel Nunes

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